segunda-feira, 18 de março de 2024

Livro da Semana - A Sabedoria da Terra


Enquanto botanista, Robin Wall Kimmerer faz perguntas sobre a natureza com as ferramentas da ciência. Enquanto membro da Nação Potawatomi, partilha a ideia de que plantas e animais são os nossos mais antigos professores. Neste livro, a autora une essas duas lentes de conhecimento para nos guiar numa «viagem que é tão mítica quanto científica, tão sagrada quanto histórica, tão inteligente quanto sábia», nas palavras de Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Orar, Amar. Baseando-se na sua vida como cientista, indígena, mãe e mulher, a autora mostra-nos como outros seres vivos nos oferecem dádivas e lições importantes, mesmo que nos tenhamos esquecido de como ouvir as suas vozes. Numa densa trama de reflexões, que vão da criação de Ilha da Tartaruga às forças que ameaçam hoje o seu crescimento, Robin Wall Kimmerer desenvolve a sua ideia central: o despertar de uma consciência ecológica requer o reconhecimento e a celebração da nossa relação recíproca com o resto do mundo vivo. Só quando conseguirmos ouvir as línguas de outros seres seremos capazes de entender a generosidade da terra e aprender a retribuir da mesma forma. A Sabedoria da Terra está destinado a ser um clássico da escrita sobre a natureza.

"Quando olhamos para todos os danos que infligimos, é fácil acreditar que a Terra está a ser destruída. Mas, na verdade, é a nossa relação com a terra que está destruída. Nós temos a capacidade de mudar essa realidade, podemos optar por consumir menos e agir com mais cuidado com a Terra. Podemos escolher compreender o mundo como uma dádiva e responder adequadamente.
Não necessitamos de mais política, de mais dados, nem mais dinheiro. Precisamos sim de uma mudança no nosso coração."

sábado, 16 de março de 2024

Bauman e a dificuldade de amar


Zygmunt Bauman é autor de inúmeras obras com a palavra líquido em seu título. A noção de liquidez proposta pelo filósofo e sociólogo polaco, falecido no começo desse mês, é aplicada aos mais variados temas como a modernidade, o amor, o medo, a vida e o tempo, expressando a fluidez, isto é, a imensa facilidade com que estes elementos escorrem pelas mãos do homem moderno. A ideia, extraída de “O Manifesto Comunista” de Marx e Engels, vem da célebre afirmação de que tudo que é sólido se desmancha no ar e de que tudo que é sagrado é profanado: assim é a modernidade e sua essência que se alastra pela vida do homem moderno transformando-o não só como indivíduo, mas também como ser relacional.
O primeiro livro do Bauman que li foi “Amor Líquido” o qual, carinhosamente, valendo-me das palavras de Caetano, defino como “um sopapo na cara do fraco”, que me fez e faz, já que essa sorte de questionamento é constante, pensar na forma como nos relacionamos hoje em dia. Um ponto alto do livro, aos meus olhos, é o capítulo no qual Bauman fala sobre a dificuldade de amar o próximo destacando o modo como lidamos com os estranhos. Penso que nessa dificuldade é que se encontra a raiz de tantos dos nossos problemas seja na esfera pessoal ou pública. E é sobre isso que eu gostaria de refletir conjuntamente hoje.
Vivemos em uma sociedade fortemente marcada pelo conflito ser x ter na qual o homem passa a se expressar pelas suas posses, elementos definidores de sua própria identidade, o que reflete na busca por certa conformidade que ceifa a pluralidade de existências e segrega o que é diferente, estranho. O modo como as cidades se dividem é exemplo disso, os nichos considerados seguros são aqueles onde todos se parecem, exacerbando a nossa dificuldade em lidar com os estranhos que passam a ser evitados através de sistemas de segurança, muros, priorização de espaços que assegurem a conformidade de seus freqüentadores como os shoppings e etc. Evitar a todo custo o incômodo de estar na presença de estranhos, começar a enxergar naquele que sequer se sabe o nome um inimigo em potencial e desconfiar de tudo e de todos só é possível graças ao desengajamento e ruptura de laços para o sociólogo polaco.
Se levarmos em conta que amar outra pessoa não é amar o que projetamos nela e sim a sua humanidade e singularidades, não será difícil compreender que o amor é um desafio nos tempos de modernidade líquida. A busca pela felicidade individual nos transforma em tribunais individuais e, na disputa pela sentença a ser proferida, não raro, o que se vê é sair vencedor aquele que se recusa a ouvir o outro. Facilmente, pois, livramo-nos dos compromissos e de tudo aquilo que nos pareça incômodo. Ainda que tão agarrados a nós mesmos, paradoxalmente, é bastante comum que a solidão seja companhia (e problema) constante de quem vive a descartar.
Os muros que construímos ao nosso redor, físicos ou emocionais, têm mesmo esse condão de isolar e criar dois mundos em cada um de seus dois lados: o de dentro e o de fora. O último, espaço cativo dos que nos incomodam- aqui incluídos tanto quem nos relacionamos de forma íntima, quanto aqueles que preferimos distantes, inviabilizados de estar perto, enfim, aniquilados ao prender, matar, limitar a circulação, fixar em zonas periféricas e etc. É que Narciso acha feio tudo que não é espelho, já diria, mais uma vez, o sempre genial Caetano Veloso.
Dessas reflexões que vão (muito) longe e que, por ora, encerro aqui fica sempre uma mensagem muito clara para mim: amar (mesmo) é um ato revolucionário e só ama quem tem coragem o bastante para lidar com esse desafio porque sabe que, por mais que nem tudo sejam flores, esse amor “sólido” é que nos impulsiona a querermos ser melhores seja como pessoa ou sociedade. Parece distante e utópico, mas está dentro de nós: ame profunda e verdadeiramente. Até quem você não conhece.

Ode à Paz

Ode à Paz
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
                               deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"

quinta-feira, 14 de março de 2024

Petição - Temos de proteger o lobo!

Exmos/as Senhores/as,

Escrevo a propósito da proposta da Comissão Europeia, apresentada a 20 de dezembro de 2023, para reduzir o estatuto de proteção do lobo na Convenção de Berna, apesar da falta de evidências científicas para apoiar uma mudança que poderá ter impactos devastadores.

Considero a proposta da Comissão Europeia inaceitável. A desproteção do lobo em nada resolve os problemas socioeconómicos que afetam a agricultura e as comunidades rurais e, no entanto, esse argumento falacioso é usado pela Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, promovendo a desinformação.

Nós, humanos, fazemos parte do ecossistema que partilhamos com outras espécies que desempenham papéis ecológicos cruciais. A forma como gerimos a proteção de espécies como o lobo mostra o nosso empenho na preservação da biodiversidade europeia e reflete a nossa atitude em relação ao ambiente em que vivemos. Podemos decidir se queremos que a natureza na Europa prospere ou apenas sobreviva.

A coexistência entre as pessoas e os grandes carnívoros é possível e provada por mais de 80 projetos de investigação e conservação desde 1992, e os Estados-Membros da UE têm de saber e querer usar as ferramentas de conservação ao seu dispor. A Lei de Proteção do Lobo-ibérico protege esta espécie em Portugal desde 1988, e os esforços de conservação atrelados às medidas de promoção da co-existência tornaram possível a convivência harmônica entre as pessoas e o lobo.

Como pessoa cidadã da União Europeia, preocupo-me com estas questões. Por isso, apelo ao Governo português que continue a fazer ouvir a sua voz junto da Comissão Europeia e mantenha a posição manifestada no início de 2023 de oposição à redução do estatuto de proteção do lobo. Enquanto Estado-membro da UE, Portugal deve rejeitar esta proposta. Esse é o meu apelo – e espero que seja ouvido.

A menos que haja novas provas científicas substanciais recolhidas pelos serviços da Comissão Europeia, considero que a ciência e a opinião pública são claras: a alteração do estatuto de proteção do lobo – quer ao abrigo da legislação da UE, quer da Convenção de Berna - não se justifica.

Música do BioTerra: Billy Idol - White Wedding (Clubland Extended Remix)


Traditionally, a bride wears white at her wedding to symbolize virginity. In the song, Billy Idol is being sarcastic. He's saying his sister is going through with a “shotgun wedding” because she's pregnant, not a virgin at all. So, to him it's amusing that she's wearing white.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Mais de 1,6 milhões de pedidos para fazer queimas e queimadas em 2023


A aplicação informática para comunicar e autorizar queimas e queimadas recebeu cerca de 1,6 milhões de pedidos no ano passado, mais 600 mil do que em 2022, revelou hoje o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

A plataforma queima e queimadas, gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), existe desde 2019 e permite uma gestão centralizada dos pedidos de autorização e de comunicação, tendo em conta que as queimas necessitam de uma comunicação prévia fora do período crítico de incêndios rurais, enquanto as queimadas exigem uma autorização.

No chamado período crítico de incêndios – geralmente entre 01 de julho e 30 de setembro – tanto as queimas como as queimadas precisam de uma autorização para serem realizadas.

Dados hoje divulgados pelo ICNF, durante a apresentação da nova campanha “Portugal Chama 2024-2026”, dão conta que a plataforma queimas e queimadas recebeu 1.655.010 de contactos em 2023, enquanto no ano anterior tinha recebido 1.030.857, um aumento de 13%.

A plataforma das queimas e queimadas pode ser acedida através de uma aplicação de telemóvel, portal do ICNF e através da linha SOS, que tem várias componentes relacionadas com ambiente, gestão florestal e queimas e queimadas.

Segundo o ICNF, a linha SOS recebeu 111.803 chamadas no ano passado sobre pedidos de autorização ou comunicação da realização das queimadas, mais 25% do que em 2022.

Em declarações à Lusa, o presidente do ICNF, Nuno Banza, afirmou que a esmagadora maioria dos pedidos são feitos através do site ou do telemóvel, mas “continua haver também muitos pedidos feitos telefonicamente”, uma vez que o número é gratuito.
“O ano passado tivemos mais de um milhão de contactos pelas diferentes formas para pedidos de queimas ou queimadas e tivemos um pico que chegou a quase 4.000 chamadas no mesmo dia”, disse, explicando que os pedidos feitos através da plataforma permitem que todo o processo seja automatizado, uma vez que as câmaras municipais têm acesso a esta aplicação e são as autarquias que “autorizam ou não” as queimas e queimadas “em função das condições meteorológicas que existem nos territórios”.

Nuno Banza destacou a “grande mudança” que se tem verificado nos últimos anos devido às campanhas de sensibilização: “As pessoas normalmente já nem sequer pensam em queimar nos dias de maior risco do ano”.

O responsável frisou que o maior número de pedidos “são fora da tradicional época do verão”.

No entanto, esclareceu que há dias no inverno, em que há períodos de seca por não chover, e não se pode fazer queimas, salientando que “é por isso que esta plataforma é muito importante”.

A Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) apresentou hoje a nova campanha “Portugal Chama”, que vai prolongar-se até 2026, depois da campanha anterior, que funcionou entre 2019 e 2023 e com o mesmo nome, ter permitido reduzir em mais de metade os incêndios florestais em seis anos, conseguindo-se evitar cerca de 60.000.

O presidente da AGIF afirmou à Lusa que a primeira campanha “Portugal Chama” conseguiu “alterar muitos os comportamentos dos portugueses”.

“Só que ainda há 7.000 incêndios por ano, dos quais a maioria são intencionais”, frisou Tiago Oliveira, sublinhando que tem de existir agora “um tratamento específico: ou trabalho policial ou também de trabalho de sensibilização de proximidade”.

Na cerimónia de apresentação da campanha, Manuel Rocha, da GNR, apresentou a operação “Floresta Segura” da Guarda Nacional Republicana, que tem várias fases, nomeadamente da realização de ações de sensibilização e fiscalização, investigação dos incêndios e combate.

Entre 2019 e 2023, a GNR deteve 599 pessoas pelo crime de incêndio florestal, identificou 3.882, registou 25.694 crimes e investigou 42.963 fogos, além de ter levantado 25.336 autos de contraordenação, sendo a maioria por falta de limpeza dos terrenos.

terça-feira, 12 de março de 2024

Gary Snyder - A Prática da Natureza Selvagem


"Para sermos verdadeiramente livres, temos de aceitar as condições fundamentais tal como são - dolorosas, impermanentes, abertas, imperfeitas - e de nos mostrarmos depois gratos pela impermanência e liberdade que elas nos concedem. Pois num universo invariável não haveria liberdade. Com essa liberdade, melhoramos a habitação, educamos crianças, expulsamos tiranos. O mundo é Natureza e, a longo prazo, inevitavelmente selvagem, porque o selvagem, enquanto processo e essência da Natureza, é também uma imposição de impermanência."

domingo, 10 de março de 2024

Vão votar!


Já fui votar. 
Hoje faria 85 anos um dos nossos melhores realizadores, António-Pedro Vasconcelos. 

Vi quase todos os seus filmes: "Oxalá", "Jaime", "O Lugar do Morto", " Os Imortais" e o belíssimo "Os Gatos Não Têm Vertigens". 

Estava a preparar um novo filme sobre o Abril.  

Em 2022, numa entrevista à Lusa, o realizador disse que "O lavagante" era um filme que lhe interessava "porque tem um grande conflito e ajuda os mais jovens a perceberem o que foi o fascismo".

"É um filme de certa maneira mais duro sobre o que foi a ditadura. Peguei no conto, a família do Cardoso Pires aceitou que fizesse a adaptação", explicou António-Pedro Vasconcelos, que assinou o argumento adaptado. Felizmente o produtor Paulo Branco irá finalizá-lo.



Medicamentos fora de uso e de prazo podem significar vida para o planeta


A VALORMED acaba de lançar mais uma campanha de âmbito nacional que procura alertar os portugueses para a importância de entregar os resíduos de embalagens vazias e medicamentos fora de uso e de prazo de origem doméstica nos pontos de recolha disponíveis nas farmácias e parafarmácias, divulgou em comunicado.

Segundo a mesma fonte, sob o mote “Por um futuro feito de vida, cuide hoje do ambiente”, procura alertar para as consequências nefastas da eliminação incorreta e descuidada destes elementos e o seu impacto no futuro do planeta.

Quando os medicamentos fora de uso e de prazo e os seus resíduos são colocados no lixo ou despejados nos esgotos domésticos contaminam e permanecem nos solos, nas águas dos rios e dos mares e na nossa torneira, comprometendo o futuro do planeta e a nossa saúde.

“Ao longo dos últimos quase 25 anos de existência a VALORMED tem percorrido um caminho importante, com o número de resíduos de embalagens vazias e medicamentos fora de uso e de prazo recolhidos a crescer de forma gradual, atingindo em 2023 as 1275 toneladas. No entanto, sabemos que há ainda há muito por fazer porque este não é um hábito que faça parte do dia-a-dia de todos. É urgente que esta ação se torne uma rotina, tornando como possível construirmos um futuro mais sustentável para este planeta que partilhamos”, alerta Luís Figueiredo, diretor-geral da VALORMED.

A campanha vai estar presente de norte a sul do país e regiões autónomas, e espera contar com o apoio de diferentes instituições e municípios para que seja possível alcançar o maior número de pessoas. A campanha irá também ganhar forma nos canais digitais da VALORMED e dos seus parceiros.

Nas redes sociais da VALORMED serão partilhados posts informativos, com dados atuais, que pretendem ajudar a população a esclarecer dúvidas frequentes no dia-a-dia e erros cometidos, centrando a atenção sobre o que deve e não deve ser entregue nos pontos de recolha. A campanha estará também disponível no site da VALORMED.

Como o foco é na criação de um futuro feito de Vida, as crianças (os adultos de amanhã) “assumem também um papel importante na criação de hábitos que irão mais tarde colocar em prática e que no presente transmitem aos pais, educadores e famílias”.

Tendo presente esta realidade, a VALORMED promove também a campanha junto dos estabelecimentos de ensino de 1º ciclo, para o qual foi desenvolvido um programa de aprendizagem ativa e dinâmica, com jogos que proporcionam às crianças a oportunidade de aprender através da experiência.

Para que as turmas possam ter acesso a estes conteúdos, os professores deverão aceder ao site Escolas de Valor, onde encontram toda a informação e material didático para começar já hoje a sensibilizar os mais pequenos para uma melhor vida para o Planeta.

Os medicamentos “são fundamentais para a nossa saúde, e com o aumento da esperança média de vida o seu consumo é cada vez maior. É por isso fundamental que todos saibam onde entregar os resíduos de embalagens vazias e medicamentos fora de uso e de prazo. E da mesma forma que recorrem às farmácias e parafarmácias para comprar medicamentos ganhem o hábito de lá os entregar quando já não necessários”, conclui a nota.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Raquel Varela - Por que o Chega representa um novo fascismo?


Um jovem perguntou-me: por que, afinal, o Chega é um Partido neofascista? E o que isso significará para um jovem como eu?

Eu, como todos por aqui, estou também farta: farta de salários miseráveis, casas a meio milhão de euros e empregos da treta, pessoas que vão para o trabalho às 6 da manhã e regressam a casa às 9 da noite e não conseguem pagar as contas todas. Também estou farta de temas em pauta que não discutem nada do que é fundamental, desde logo a autodeterminação social e sexual, ou seja, sem emprego e casa não há liberdade social sexual de qualquer tipo. Hoje um jovem, de qualquer sexo ou orientação sexual, a menos que seja rico e tenha casas ou garagens e jardins dos pais para festas, não tem um lugar onde se possa namorar, sair, conviver com amigos, e muito menos a perspetiva de uma casa própria, casar ou ter filhos.

Não é que não haja escolha na classificação da casa de banho, é que não há casa de banho de todo. De género algum, porque não há casa própria, de cada um, nem espaço público, para todos. Todo o espaço -tirando a praia - é privado e inacessível. Qualquer convívio custa dezenas de euros, desporto custa centenas de euros. Viajar é impossível. Um jovem não pode ir a uma discoteca, restaurante, conviver. Está preso à casa dos pais.
Emigrar é uma tristeza, não uma solução -- manda-nos para longe de quem amamos, da família e dos amigos, e deixa-nos a viver sem afectos. E, é claro, sem direitos cívicos plenos.

A tudo isto acho que é preciso dar uma resposta a sério, e não me revejo em nenhum dos partidos políticos do arco da governação parlamentar. O PS e o PSD vão continuar a fazer o mesmo, é preciso mudar radicalmente, sem medo de ser radical -- ser radical é resolver os problemas, ir à raíz. Por isso eu devolvo a pergunta ao jovem? E, o Chega, vai mudar alguma coisa? Como? Por que?

Só há uma forma - uma única, não há duas - de mudar: é ir buscar o dinheiro onde ele existe, o dinheiro de quem trabalha das 6 às 9 alimentando os lucros dos Bancos e casas para especulação. Como o Chega vai buscar este dinheiro se ele é financiado por empresários e capitalistas que pagam os salários miseráveis, os empregos da treta e guardam religiosamente o resultado desse trabalho em Bancos e casas para especular, onde brincam a vender acções, activos ou "bitcoins"?

Não fugi da questão. Por que o Chega representa um novo fascismo? O fascismo histórico surgiu há 100 anos, quando empresários começaram a financiar pessoas violentas para impedir revoltas sociais contra os empregos da treta, na Alemanha em 1920. No passado o fascismo financiava, às claras, milícias, desempregados e pessoas que saíam do exército, com raiva do mundo, desesperadas portanto, que "aceitavam" ser funcionários (ou mercenários) do partido e das milícias para combater os que vinham para as ruas fazer greves contra salários miseráveis. São os capatazes que matavam grevistas no século XIX. Não passou despercebido a ninguém que o Partido irmão do Chega, o "Ergue-te" propôs em público a proibição das greves.

Hoje, como é ilegal organizar milícias, estas organizam-se, segundo os estudos vários publicados, e relatórios de segurança das próprias polícias, através de grupos sociais violentos, de claques de futebol a artes marciais, nas polícias e movimentos de seguranças privados, ou até associações que visam "ajudar" a sociedade, fazendo dos seus corpos armas, ou usarem directamente armas, para amedrontarem quem luta contra salários miseráveis, e empregos da treta.

Mas o Chega não é isso, dir-me-á o jovem? A partir dos 15 anos de idade temos que perceber o que é a verdade e a mentira, usando a nossa própria cabeça. Ninguém pode fazer isso por nós.

Há várias reportagens de jornalistas publicadas em Portugal e relatórios de segurança que indiciam que sim, as ligações da nova extrema-direita aos grupos sociais violentos, envolvendo apoiantes do Chega. Na Grécia ficou provado e o Partido de extrema-direita foi proibido em democracia. Em Portugal, só alguns jornalistas tornaram isso público, nunca o Ministério Público investigou (por que será?).

Mas não precisamos de uma prova da ligação do Chega a milícias: o que o Chega tem sido até hoje se não pura violência verbal? Como Ventura debate? Com interrupção do debate, ruído intencional, falar mais alto que o adversário, dizer mentiras ou verdades, mas elevando a voz e repetindo três vezes, gozando, rindo, ofendendo, insultando a esmo, fez até algo que só os fascistas fazem -- falar da vida privada dos outros candidatos.
Não sou do Livre, Rui Tavares apoiou a invasão da Líbia, não tem qualquer programa distinto do PS, mas a sua vida privada é sagrada. Para os fascistas não - não existe diferença entre vida pública e privada. Hitler colocou filhos a denunciar na escola conversas dos pais em casa -- não havia fronteira entre a vida de cada um e a vida pública, é isso um tipo de totalitarismo.

Olhando as câmaras com muita convicção e dizendo frases batidas, murros em forma de palavra, toda a sua visão totalitária do mundo está ali -- "Calem-se!" é o nome verdadeiro do Chega.
Toda a comunicação do Chega é fascista, como nos anos 1920, porque não visa diálogo algum, contraditório, visa calar, silenciar, matar a voz do outro, é isso historicamente o fascismo.

Por isso Ricardo Araújo Pereira merece a nossa admiração, não só porque nos faz rir e pensar, mas porque foi ele, mais ninguém com microfone e poder de decisão, que colocou um verdadeiro cordão sanitário (que os jornalistas na sua maioria não colocaram, e muito menos o Tribunal Constitucioal) e disse - com fascistas não se discute, não há democracia quando somos silenciados -, foi o único a aprender com as lições da História.

Na verdade uma democracia a sério deve dar liberdade toda a todos; e não dar rigorosamente liberdade nenhuma a quem quer silenciar, calar, amedrontar, ameaçar, usar da violência contra os outros. No limite matar, porque é isso que faz a extrema direita ao longo da história - usa os fascistas para matar quem luta por salários e empregos decentes. A responsabilidade é toda destes Partidos e do Estado, que o permite e, às vezes, incentiva.

Este fascismo, justamente porque o Estado é conivente, não se combate com votos, claro, combate-se com organização social e política, greves, muitas manifestações, com democracia real e participativa de facto. Domingo se o Chega tiver 40 deputados vai ter rios de dinheiro para assessores, dinheiro nosso para a violência verbal com que nos tem tratado - e daí, segue-se o quê? Não vão mudar em nada as condições dos jovens, nem os salários, nem a imigração, isso só se faz lutando pela liberdade e pela igualdade, contra as empresas que financiam o Chega. E isso só se faz com fraternidade entre nós, mesmo com diferenças. Fraternidade e não gritos e medo, é a palavra-chave.

Outra coisa que se aprende a partir dos 15 anos de idade: só nós mudamos a nossa vida, ninguém faz isso por nós, os jovens têm que voltar a fazer parte das lutas políticas e sociais, sair à rua, lutar pelo que têm direito: ficar cá, ter casa, conquistar emprego, desfrutar lazer, ser felizes, ser, verdadeiramente, e a sério, livres.

Os tambores do militarismo, aliás, ameaçam a vida destes jovens não só com este lixo da História, o fascismo, mas com os mais respeitáveis senhores do comércio, da indústria e das finanças a impor decisões de guerra e economia de guerra, decisão que tem as cores dos dirigentes da União Europeia. Os partidos verdadeiramente democráticos devem por isso não só dizer não ao novo fascismo, mas exigir nem mais um euro para a guerra na Ucrânia e parar a máquina de guerra em Israel. Senão, ainda por cima, os jovens vão ser, outra vez, carne de canhão dos lucros.

Votar com os pés contra o militarismo e a violência como política, aqui, na Europa e no mundo inteiro, sempre! Contra o Chega a Fraternidade; contra a ameaça e o medo a liberdade; contra a pobreza trabalho digno para todos.

Pacheco Pereira - Tanta verdade junta mereceu publicação


Não resisti a não publicar o vídeo do programa de Miguel Sousa Tavares, a 5ª Coluna, exibido em 07/03/2024. Nem sempre concordo com o MST mas, desta vez, todos os assuntos tratados são de uma atualidade candente e foram abordados contra a corrente das ladaínhas dos jornaleiros serventes das narrativas do poder dominante.

O primeiro assunto é do âmbito da política nacional e tem a ver a queda do governo de António Costa. Em véspera das eleições de dia 10, ainda o Ministério Público não informou os portugueses sobre o que de errado fez o ex-primeiro ministro, de que é acusado, que indícios existem contra ele, etc. Aliás, a revista Visão publicou, também nessa data, um artigo em que revela que o próprio Ministério Público não tem indicios de crime, nos dois casos que levaram às buscas que deram origem ao comunicado que fez cair o Governo:

“Ao fim de quatro anos de investigação e milhares de escutas telefónicas, o Ministério Público (MP) admitiu não ter a certeza de que foram praticados crimes nos casos do lítio e do hidrogénio, assim como noutras situações que envolvem antigos ministros, como João Galamba e João Matos Fernandes. Quando separaram as investigações por processos autónomos, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) assumiram estar ainda por “comprovar a existência de indícios da própria ocorrência de crime” naquelas duas situações, o que carecerá de análise necessariamente mais demorada”, acrescentaram”. (Visão, 07/03/2024).

MST pergunta, e eu também pergunto: como pode a justiça fazer cair um governo sem ter nada de sólido e concreto para acusar o chefe e outros membros do governo?! Um golpe de estado para levar o Chega e companhia ao poder? Quem sabe.

O segundo assunto é o horror dos crimes que Israel está a cometer na faixa de Gaza, nomeadamente contra crianças. MST compara, sem pejo, os crimes de Israel aos crimes dos nazis contra os judeus nos campos de concentração e no gueto de Varsóvia.

O terceiro assunto é sobre a guerra na Ucrânia e sobre as loucas decisões belicistas dos líderes europeus, com Macron à frente, que querem aumentar as despesas com armamento à custa do definhamento do estado social, e que ainda sonham com a possibilidade de derrotar a Rússia e sacarem-lhe os seus vastos recursos. Ora, qualquer mentecapto sabe que atacar a Rússia equivale a desencadear a III Guerra Mundial, mas é para esse cenário de morte e destruição do planeta que os líderes europeus nos estão a conduzir.

Por tudo isto, vejam o vídeo. MST das poucas vozes que ainda vai tendo espaço, na comunicação social de larga audiência, para expressar, de quando em quando, algum ruído nas narrativas dominantes que nos servem diariamente, em catadupa, por vezes quase até ao vómito.

Podem ver o vídeo aqui.

Dia Mundial da Mulher 2024

Feliz Dia da Mulher.
Um hino instantâneo. A força da música e a marca inconfundível da prosa da Capicua. Muito bom! Parabéns! Certamente que neste dia da Mulher muitas se vão sentir representadas.

da Capicua:
"Por um mundo em que tenhamos direito ao ócio, ao descanso e ao pensamento despreocupado. Um mundo em que não precisemos do prefixo "super". Em que não tenhamos permanentemente uma pesada mochila às costas. E em que possamos estar em igualdade de circunstâncias com os nossos pares para vencer no trabalho, nas artes, na política, no desporto. Sem o dobro do esforço, sem a dupla jornada, sem a exaustão. Não deixemos que a exploração dos nossos corpos e da nossa força vital seja sempre posta na conta do amor incondicional, justificada pelo mito do instinto materno ou pela armadilha do multitasking. Façamos o 25 de Abril que falta dentro de casa!

Esta é a minha forma de celebrar o 8 de Março, os 50 anos de Abril, homenagear um dos seus maiores ícones musicais (Sérgio Godinho) e de semear, como ele no tema de 1971, a semente do inconformismo, no coração de todas as mulheres que dão o tempo e o sangue para garantir a economia do cuidado e a mão de obra do futuro".

Links:

Clique na ligação, para saber mais sobre o Dia Internacional da Mulher

Happy International Women’s Day


Happy International Women’s Day 2024
Today, we celebrate the legacy of Sinead O’Connor
Beyond her beautiful voice, she was a strong activist, using her public voice to draw attention to causes close to her heart. She brought attention to child abuse, fought for human rights, opposed racism, challenged organised religion and supported women’s rights.
Rest in power, Sinead. Your spirit lives on through your music and your unwavering commitment to justice and equality.

Feliz Dia Internacional da Mulher de 2024
Hoje celebramos o legado de Sinead O’Connor
Além de sua bela voz, ela era uma forte ativista, usando sua voz pública para chamar a atenção para causas que lhe eram importantes. Ela chamou a atenção para o abuso infantil, lutou pelos direitos humanos, opôs-se ao racismo, desafiou a religião organizada e apoiou os direitos das mulheres.
Descanse no poder, Sinead. Seu espírito vive através de sua música e de seu compromisso inabalável com a justiça e a igualdade.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Que Fazer Com as Árvores – Madeira ou Créditos de Carbono?


A procura de créditos de carbono tornou as florestas mais atrativas para os investidores. Os gestores de investimentos que adquiriram terrenos florestais estão a analisar árvore a árvore para saber se devem ser abatidas para a produção de madeira ou mantidas para a produção de créditos de carbono.

A procura crescente de créditos significa que o investimento em florestas não se resume à produção de madeira, mas pode ser necessário muito trabalho para determinar o papel que cada árvore deve desempenhar numa carteira, bem como para garantir que está a cumprir os benefícios ambientais prometidos se for mantida de pé. Quando se investe numa floresta, a pergunta que fazemos é: "Como é que se gerem os produtos de madeira versus o carbono?", diz Brian Kernohan, diretor de sustentabilidade, mercados privados, na Manulife Investment Management. "A resposta para nós é: 'O que é que os nossos clientes querem?

A Manulife, que tem 5,4 milhões de acres de floresta na sua carteira de investimentos, calcula o valor de cada árvore para informar a sua estratégia de colheita. Cada árvore de uma floresta tem de ser avaliada com base nas taxas de crescimento das espécies e no valor do produto. Se o valor do crédito de carbono for suficientemente elevado, a árvore mantém-se, mesmo que seja apenas por mais alguns anos. Se não for, é cortada para a produção de madeira. As árvores de folha larga, por exemplo, são melhores para o sequestro de carbono, mas demoram mais tempo a crescer, criando até 500 a 600 créditos por hectare, mas levando mais de 100 anos a atingir a maturidade. As árvores coníferas, por outro lado, criam metade do número de créditos por hectare, mas demoram apenas 35 a 40 anos a atingir a maturidade, o que as pode tornar mais úteis para atingir mais rapidamente as emissões líquidas nulas.

Kernohan afirma que, até há pouco tempo, os terrenos florestais não eram suficientemente valiosos para se considerar que valia a pena investir apenas no sequestro de carbono. "Agora podemos perceber esse valor", diz ele.

O mercado voluntário de créditos de carbono poderá valer 40 mil milhões de dólares até 2030, contra 2 mil milhões de dólares em 2021, de acordo com um relatório do Boston Consulting Group e da Shell. Este mercado oferece uma forma de as empresas ajudarem a anular as emissões de carbono que produzem nas suas operações e pode ser especialmente útil para as empresas de sectores difíceis de eliminar, como a produção de energia e a indústria pesada.

A procura de créditos de carbono tem crescido rapidamente, tanto nos EUA como no estrangeiro, mas nos últimos anos começou a abrandar depois de terem sido levantadas questões sobre se os projetos estão a cumprir o que prometem. Uma investigação levada a cabo em 2023 pelo jornal britânico The Guardian, pelo semanário alemão Die Zeit e pela Source Material, uma organização jornalística sem fins lucrativos, revelou que muitos dos créditos de carbono certificados que são comprados e vendidos não representam, de facto, reduções genuínas das emissões de carbono.

"O problema de todo o mercado é a diversidade dos tipos de créditos e das metodologias utilizadas para os calcular", afirma Tom Frith, gestor de investimentos da JustCarbon, uma empresa de financiamento de projetos de créditos de carbono. "Para uma empresa, é muito mais fácil pensar na compra de créditos de carbono como um investimento num projeto individual do que num produto uniforme".

Há diferentes tipos de créditos de carbono. Os créditos de remoção, por exemplo, são gerados pela quantidade de dióxido de carbono que uma empresa remove da atmosfera e são vistos como mais valiosos porque a tonelagem de carbono pode ser calculada mais facilmente. Entretanto, os créditos de evitação podem ser mais difíceis de calcular com precisão, uma vez que são gerados através de uma atividade que não se realiza - por exemplo, não cortar uma árvore. As iniciativas de plantação de árvores também geram créditos de remoção porque removem carbono através da fotossíntese.

Fonte: WSJ

quarta-feira, 6 de março de 2024

Reflorestação marinha em 10 zonas costeiras


A Seaforester pretende avançar com reflorestação marinha, no sentido da recuperação de habitats rochosos na costa continental portuguesa, que outrora dominados por abundantes laminárias, algas marinhas de grande importânciaecológica e económica. O projeto será aplicado nas seguintes zonas, de norte para sul: Carreço, Amorosa, Peniche Sul, Ericeira, Cascais, Cabo Raso, Guia, Pedra do Sal, Porto Covo, Ilha do Pessegueiro, Serro do Sudoeste, Mar das Troncas e Baixa Atafonas. A SeaForester tem recebido apoio do governo Português por intermédio de vários projetos financiados pelos mecanismos do Fundo Azul (Seaforest Portugal) e EEA Grants (Blueforests e Blueforesting).